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O Projeto Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (DELPo)

O DELPo é um projeto de dicionário etimológico, surgido em 2012, juntamente com a criação do NEHiLP (www.nehilp.org), que pretende sanar a deficiência atual de dicionários etimológicos quanto à presença de abonações e à delimitação precisa do terminus a quo de seus lemas e acepções, além de, ao mesmo tempo, satisfazer os requisitos exigidos da linguística moderna. A coordenação geral deste projeto é do prof. Dr. Mário Eduardo Viaro (DLCV-FFLCH/USP) e, no momento (início de 2019) conta com mais de 24.000 lemas a serem revistos, classificados e catalogados, inseridos sobretudo por bolsistas do Programa Unificado de Bolsas (PUB), da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo, sobretudo entre os anos de 2016-2019. 

O que caracteriza um dicionário etimológico elaborado no século XXI é o trabalho desenvolvido em equipe, com especialistas de diversas áreas: filólogos, lexicólogos, lexicógrafos, terminólogos, semanticistas e especialistas em tipologia textual. Será, portanto, um trabalho conjunto, que pode ser efetuado por colaboradores à distância, por meio da inserção de textos e de dados, bem como o aprimoramento das informações de etimologia, classificação morfológica e semântica dos dados.

O DELPo será acessível mediante login e senha por pesquisadores cadastrados e interessados em algum tipo de atividade (coleta de textos, revisão filológica mediante codificação aceitável pelos programas que geram os seus bancos de dados, inserção de dados, seleção de dados, mudanças nas informações morfológicas, semânticas e etimológicas das fichas), aos quais será atribuído um determinado nível de acesso. À medida que os resultados se tornam mais maduros, são transplantados para a página de acesso público.

Assim sendo, o DELPo necessita não apenas de voluntários qualificados e treinados, mas também de apoios acadêmicos e financeiros, com os quais desenvolverá uma equipe maciça de pesquisadores. Uma publicação de todo material de modo digital ou em papel não está descartada. Cumpre observar, que, para estímulo do trabalho em conjunto, que todos os dados do DELPo, assim como todas as modificações em seus verbetes, são assinados pelos pesquisadores que aprimoram seus dados, de modo que todos os envolvidos na criação do dicionário são coautores, responsáveis pela qualidade e pela análise dos dados.

Como uma boa explicação etimológica depende de coleta exaustiva de dados associados a datações seguras, o NEHiLP buscou sanar a deficiência etimológica dos estudos históricos/diacrônicos em língua portuguesa por meio da união conjunta de especialistas nas línguas que participam dos étimos, da pesquisa tradicional em manuscritos orientada por filólogos e especialistas em tradições discursivas e também dos recursos atuais da Informática. Para a realização do projeto DELPo, conta-se com mecanismos de busca e bancos de dados desenvolvidos por pesquisadores do CCSL/IME-USP, coordenados pelo prof. Marco Dimas Gubitoso, construídos para facilitar o cruzamento de dados no momento da redação dos campos que compõem os verbetes.

Por conseguinte, no desenvolvimento das ferramentas computacionais que servem de base para as pesquisas do NEHiLP e para a confecção do DELPo, deu-se especial atenção à qualidade das informações no tocante a:

  1. as obras processadas, tais como a classificação tipológica adequada dos textos;
  2. os autores e demais elementos bibliológicos;
  3. as classificações morfológicas e semânticas dos dados inseridos;
  4. as propostas etimológicas existentes, comparadas aos dados coletados e às conclusões do núcleo.

Como se sabe, diferentemente do que ocorre com a maior parte das línguas europeias (inglês, francês, espanhol e italiano), a informação etimológica presente nos dicionários da língua portuguesa é bastante falha no tocante aos seus dados etimológicos. Neles:

  1. confundem-se derivação sufixal/prefixal e etimologia;
  2. confundem-se étimo da palavra e sua origem remota;
  3. não há cuidado suficiente com étimos de línguas ágrafas;
  4. desconhece-se muito da influência árabe;
  5. há total arbitrariedade no que toca a étimos de origem indígena e africana;
  6. há abundância de étimos fantasiosos que descaracterizam o estudo etimológico como um trabalho científico.

Acresça-se ainda o fato de que:

  1. há poucos dicionários etimológicos que contam com datas fiáveis para seus termini a quo;
  2. não há até hoje uma metodologia para o trabalho do terminus ad quem;
  3. a língua portuguesa está longe de ter hipóteses etimológicas e termini a quo para acepções, pois o que existe são majoritariamente datações de lemas.

Todos os pesquisadores que se dedicam a aspectos históricos e à diacronia da língua portuguesa sentem falta de material especializado à altura do dicionário etimológico Oxford para a língua inglesa, do Le Robert para o francês, do Dizionario etimologico, de Cortellazzo & Zolli para o italiano ou do Diccionario crítico etimológico, de Corominas para o espanhol. As obras mais completas que temos em língua portuguesa são as várias publicações de Antônio Geraldo Cunha, Houaiss & Villar e José Pedro Machado. São ausentes ou muito falhos os estudos dos séculos XVII, XVIII e XX.

Além da desejável versão integral do DELPo, imagina-se que também será possível fazer publicações parciais, por exemplo, por áreas específicas de conhecimento.

Para a elaboração do DELPo conta-se ainda com a participação de pesquisadores especializados em:

  1. léxico de base latina ou associadas a substratos antigos (antigos helenismos, palavras celtas, ibéricas etc) e de superstrato germânico;
  2. léxico de origem ameríndia;
  3. léxico de origem africana;
  4. léxico de origem árabe;
  5. léxico de origem indiana, chinesa e japonesa;
  6. léxico de origem desconhecida;
  7. léxico medieval, humanista e renascentista;
  8. léxico de ampla divulgação entre os diversos países europeus, de várias origens (sobretudo italiano, espanhol, francês e inglês), por vezes com características intercontinentais;
  9. léxicos específicos (terminologia científica, artes, esportes, fauna brasileira, gírias etc.)

Fizeram (e fazem) parte ativamente das equipes de criação e inserção de verbetes do DELPo, em ordem cronológica, os seguintes pesquisadores:

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